"Uma atividade voluntária exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e alegria e de uma consciência de ser diferente de vida cotidiana." (Huizinga, Johan. Homo ludens: o jogo como elemento da cultura. 5ed. Saão Paulo: Perspectiva, 2007)
De todos os brinquedos que a vida me deu, o que mais me cativou foi o de jogar com as palavras. O jogo se faz completo quando escrevo e alguém replica, quando replico o que escrevem... É na intenção de reunir jogadores e assistência, que meu blog é feito.



segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Receita de Feliz Natal

INGREDIENTES

Há que se ser paciente
com os vais e vens e vãos
mesmo nas horas cansadas.

MODO DE FAZER

Deixe que corpo e vontade
digladiem na arena do tempo
até a exaustão.
Remova as arestas da reserva
e entregue tudo a lenta e
contínua combustão.

MODO DE SERVIR

No centro da madrugada
com pitadas de raro gozo
salpicados pela cama
e pelo chão.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Apenas relaxe

E se você não parecer tão forte
se você não parecer tão duro
se você não parecer tão fechado
se você não for uma CAT completa
se você admitir vulnerabilidade
na construção da intimidade
com essa poeta
ainda assim
- pode confiar -
eu não vou fazer nada
nada
nada mesmo
na intenção
de te machucar.

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

A filha pródiga, ou dos resultados da meditação.

I
Primeiro acreditei que era incapaz
de conversar, de sorrir, de partilhar,
acreditei que era incapaz de me superar,
acreditei que estava pronta pro nunca mais
acreditei que era incapaz de acreditar.

II
Com um fiapo de dignidade reagi
e quando finalmente findei
com a "solidão a dois de dia"
eu já não era, eu era só agonia
destroçada, não me reconhecia
e não queria viver mais.
Uma dúzia e meia de meses atrás.

III
Para desistir da forca
o primeiro passo foi respirar
e respirei feito louca, embora ainda não pudesse
nem de longe me suportar.
Rigidamente impus flexibilidade ao meu corpo
que gordo, esquecido, torto
se fez dolorido e abandonado,
de mim, pela desesperança sequestrado
era um corpo perto do fim.

IV
Cozinhei-me devagar e com paciência
reconheci e expulsei
pânicos, inseguranças e outras doenças
reconstruí, naco a naco
a deusa que me habita
e é o silêncio da minha mente quem agora grita
e meu coração finalmente está em paz.

V
Olho-me do alto, árvore renascida
deusa-mãe, mulher, completa e decidida
reconheço em meu tronco cada marca, cada ferida
sei quem me impôs o último golpe aniquilante
e sei que fui cúmplice na queda vertiginosa
ao abandonar a consciência de ser rosa,
ser jasmim ou onze horas
flor simplérrima sobre o chão
beleza efêmera, odor de ocasião
permiti as sucessivas podas
que devastaram-me o jardim do coração.

VI
Hoje vejo brotar a palavra perdão
para quem me feriu,
para o mundo que assistiu
para mim mesma, na totalidade do que sou.
Quero caminhar consciente da beleza
de que respiro e sou parte completa da natureza
de que meu corpo vibra e minha voz pode embalar
sou quem sou,
nem anjo nem demônio,
não estou pra destruir nem salvar
sou apenas um ser completo
capaz de me entregar,
de amar e reamar.

Sim, por fim
a mim mesma
eu voltei a cultuar.






segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Amar é clichê

sim, 
ainda há dores
e coisas fora do lugar
há diversos dissabores
e nem todas as cores vibram
como poderiam vibrar
de lado a lado ainda há problemas
e medos e traumas 
mas há novas canções e poemas
e entrega e carinho e calma.
Cada minúscula parte do que sou
está feliz pelo que fiz:
meu coração
 - que castigado, quase secara - 
agora é toca para um leão
espécie rara que em meu peito se aninha
ronrona, delira, me inspira
a reencarnar a apaixonada poeta.
Reescrevo, sem culpa, todos os clichês 
nessa bela história de amor que hoje completa
dezesseis anos 
e um mês.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Pariceiros

MATARAM AS HORAS, SUBJUGARAM O TEMPO E TOCARAM O ÍNTIMO DA ETERNIDADE...

O Beijo. Constantin Brancusi. Cemitério Montparnasse.
É pouca noite pra muito assunto
a gente junto...
tanta energia que nos aquece
o cansaço se alivia
desaparece
pele na pele
o desejo nos revela
enovelados

a manhã
vem surpreender
o nosso afã apaixonado
e quando a luz nos trava as retinas
sorrimos os dois
cerramos as cortinas

porque é pouca noite
pra muito assunto
a gente junto