"Uma atividade voluntária exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e alegria e de uma consciência de ser diferente de vida cotidiana." (Huizinga, Johan. Homo ludens: o jogo como elemento da cultura. 5ed. Saão Paulo: Perspectiva, 2007)
De todos os brinquedos que a vida me deu, o que mais me cativou foi o de jogar com as palavras. O jogo se faz completo quando escrevo e alguém replica, quando replico o que escrevem... É na intenção de reunir jogadores e assistência, que meu blog é feito.



domingo, 20 de novembro de 2016

Nossa missa

"nas manhãs de domingo, vejo flores em você"

verti as taças possíveis
lânguida
lambi a noite
jardinei-me em promessas
e tu me ouvias
mergulhada no rio da memória
desses dezesseis anos
e quinze dias

é culto de muitas horas
te adoro
me adoras
a pele e os lábios
precisos e em prece
destroem os cansaços
e tropeçamos nos braços
que a vida oferece

do outro lado da cortina
o dia raia impassível
e eu de bruços recebo
as lições e os laços
a conceber:
o presente é canoa
que por ora conduzimos
querendo reflorescer.

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Minuto de silêncio

Amanheceu
meu mundo amorenou.
Uma pele pura
sobre a carne crua
presente
promissora e permissiva
perfeita
pôs-me perplexa
e por hora
perpassada
por poucas palavras.

domingo, 6 de novembro de 2016

Recaída

imagem disponível em http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/geografia/eclipse-solar.htm

"nas manhãs de domingo parece que todos olham pra você..." IRA!
Embora envolta em dor fina
aferi meus poros lambi-me a pele
lambi-me os pelos
levei-me para fora da toca
e em braile dei-me a ser lida.

quando da noite se fez despedida
sob o céu nublado
também chovia em mim
endorfina pra todo lado
e revi meu corpo levitar
completamente dopado!

é seu ofício e meu horror:
o domingo se arrasta sobre tudo
com o mesmo vagar
o sol beija a tudo e aquece com o mesmo fervor
e observo a velha ferida
sob os efeitos do predileto vício...

Salve! Pois que nessa vida
dura, torta e desmedida
sempre será justo comemorar
a possibilidade dessa recaída.


quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Desprendimento


No dia de tudo
pois que tudo morre
amanheço acúmulo de não pertenças
sozinha com a vida
criança na floresta
onça na avenida
miserável na classe média
privilegiada entre miseráveis
paulistana-macuxi-paulistana
humana
mulher entre travestis

pestanas abertas para o caos
encravada entre pele, pelos, ossos
sou pluma chegada ao chão do abismo
acúmulo de solidões profundas
por desistências provocadas
ausentes amizades
e descontato contínuo.