"Uma atividade voluntária exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e alegria e de uma consciência de ser diferente de vida cotidiana." (Huizinga, Johan. Homo ludens: o jogo como elemento da cultura. 5ed. Saão Paulo: Perspectiva, 2007)
De todos os brinquedos que a vida me deu, o que mais me cativou foi o de jogar com as palavras. O jogo se faz completo quando escrevo e alguém replica, quando replico o que escrevem... É na intenção de reunir jogadores e assistência, que meu blog é feito.



quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Canto aos ignorantes

eu confundo cansaço e tristeza
e sei que isso é falta de madureza
emocional da minha parte
é por isso que faço arte

eu tenho ressaca
de trabalho, de açúcar, de sexo e de sono
por isso à observação silenciosa
por vezes me abandono

eu tenho amor por quem comigo anda
pois não sei ser falsa
e agir conforme toca a banda

só sei viver com paixão meu dia-a-dia
por isso sou professora
e escrevo poesia.

terça-feira, 23 de agosto de 2016

Cena do clássico Rock Horror Show.

Quer saber? Eu canto
bizarra não sou eu,
bizarro
é seu espanto
homem branco
cara pálida,
não é incrível que dominando tanta
parafernália
você ainda creia que minha roupa
tem de ser ditada pela minha genitália?
você pergunta, eu te digo
que "tipo de humano" eu sou:
tipo homo sapiens
modelo único, sabes, doutor?
se você não percebeu
a minha humanidade
se na sua idade não entendeu
que assim como sua mãe
eu choro, rio, amo e odeio
acredite, você faz feio...
sim senhor, doutor, eu sinto
pense, o que me impediria?
o fato de ser fêmea com pinto?
não fosse trágico e eu gargalharia...
mas sei o que você temeu,
que a bizarria te atingisse
só que a bizarra não sou eu
é a sua cretinice,
por isso eu canto, doutor,
bizarro foi o espanto
que hoje te acometeu
porque ser humano, doutor,
é algo tão seu quanto meu.

sábado, 20 de agosto de 2016

Descolorido

esse poema
queria ter a cor da morte 
que acampou no quintal
há exatos quinze dias
e está levando com tanta dor
há mais de vinte horas
a pequena adotada a menos de três meses.

ele também queria ter a cor da alegria
da filha aprovada na última disciplina
a filha, sentada feito o pai
a filha, falando de sua pesquisa. 

ele queria ter a cor do cansaço
e da sensação de dever comprido
cumprido
no final de mais um seminário

mas ele mal se resume à cor 
dessa taça
rubro
como meu peito diante da vida

como meu peito
aberto feito uma cova
diante da vida.

sábado, 13 de agosto de 2016

Book de namorados

em fotografias a grafia dos afetos
sorrisos e gestos, 
amorosos afagos 

o tempo se vinga 
do pretendido congelamento:
fatalmente nos fere
desfaz o feitiço
amofina o amor

quem se afirma
na força dos fatos
é o fastio,
e as fotos
essas fotos
atestam, ferinas,
toda a ferocidade 
da nossa falência.

terça-feira, 9 de agosto de 2016

keelinggallery.com






















































"Flutuar suspende as dores..." Siba

O céu vai estar azul
mesmo que chova
e o ar fará resplandecer cada osso

haverá curas
e não me ferirá a maldade pretendida
por quem já me inferiu prejuízo e exige reparo

ponho o ar para dentro como quem bebe um remédio
ponho o ar para dentro, como quem quer engolir o mundo
e se aquietar engrandecido, integrado, completo
ponho o ar para dentro, em cada célula, em cada gota do que sou
ponho o ar para dentro, cheio de perdão
para anular a culpa pela incapacidade de olhar adiante
ponho o ar para dentro
no instante pleno
e por dentro
ponho-me no ar.

Respiro e confio
será assim
quando sorrisos voltarem a nascer
no terreno do meu coração.