"Uma atividade voluntária exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e alegria e de uma consciência de ser diferente de vida cotidiana." (Huizinga, Johan. Homo ludens: o jogo como elemento da cultura. 5ed. Saão Paulo: Perspectiva, 2007)
De todos os brinquedos que a vida me deu, o que mais me cativou foi o de jogar com as palavras. O jogo se faz completo quando escrevo e alguém replica, quando replico o que escrevem... É na intenção de reunir jogadores e assistência, que meu blog é feito.



terça-feira, 8 de setembro de 2015

Ônus do onírico

Era pesada a bagagem e íngreme a estrada
precisou descansar
fechou os olhos e quando abriu
era mistério
por onde seguiram todos?

completamente só.

sabia intimamente que não deveria mais estar ali
voltar atrás não era opção 
seguiu puxando atrás a maleta azul
a um estranho pediu ajuda, 
e colheu seu sorriso frio 
como a chuva que se aproximava. 

o coração acelerava, buscando, em vão
chegar ao outro lado da estação.

através de grades altas
viu os trilhos transformados em leito de rio
e as margens lentamente se desfazendo em lama
acima, na colina
viu colunas fúnebres muito altas e coloridas
dispostas como num tabuleiro de xadrez
e não parou um só instante
de caminhar freneticamente pelo piso
que estreito
negava-se progressivamente aos passos.

Desceu e subiu por escadarias enferrujadas
sem tirar os olhos do outro lado
já não tinha bagagem 
embora nas mãos descobrisse umas moedas
e nada, nada, nada que tentasse
lhe permitia atravessar
para onde sentia que deveria estar.

Quando a desorientação pareceu completa
e não era mais nada, nem peregrina nem poeta
pereceu para o pesadelo
e ingressou, 
suspensa e triste
noutro dia.

Cemitério guatemalteco
 http://www.panoramio.com/photo/349358








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