"Uma atividade voluntária exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e alegria e de uma consciência de ser diferente de vida cotidiana." (Huizinga, Johan. Homo ludens: o jogo como elemento da cultura. 5ed. Saão Paulo: Perspectiva, 2007)
De todos os brinquedos que a vida me deu, o que mais me cativou foi o de jogar com as palavras. O jogo se faz completo quando escrevo e alguém replica, quando replico o que escrevem... É na intenção de reunir jogadores e assistência, que meu blog é feito.



quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

da falta que sinto

minha cama morna
e com espaço a mais...
é um naco amargo
que a manhã adorna
com suaves ais.

o meu pensamento
é trilha sem volta
e de ti fervilha

logo que desperto
nado em mar aberto
sem ver praia ou ilha.


segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

o sol
dispersando
a solidão
sacudiu a sorte
separou-me do silêncio
secou meus olhos

soprou sereno
senhas e signos
sonhos selvagens
e sons ancestres
nos meus ouvidos

depois anoiteceu
e no coração, inserta,
salta selvagem
essa saudade
redescoberta.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

balanço dos dias

imagem de Ai Shinohara, selecionada por Andréa Cordeiro

o que cabe nesse furo
que abrimos pro futuro? 

feito peixe
nado nesse facho de luz
a janela entreaberta me conduz

receita certa pra ser feliz?
é por um triz
essa nova chance?

quero escrever a punho essa história
construir cada ponto da nova memória
encarar o que está encoberto
sem temor

ver tudo dar certo
e no fim morrer...
de amor.


sábado, 25 de fevereiro de 2012

nem ligar para dor ou pesar
nem pesar o que levar
levada espalhar
travessura no caminho...
caminho ao teu lado
e ninguém mais chuva: 
sobre a viúva
- antes sozinho - 
um solzinho!

domingo, 19 de fevereiro de 2012

minha fome
não tem nome
se espalha pela pele
pelos cabelos molhados
pelos pêlos

minha fome
resume mil apelos
inconfessáveis
cobertos de incontáveis
zelos.

e não há água bruta
que dê jeito

mesmo que ao mundo,
noite e dia, eu degluta
não se sacia
o desejo dela oriundo...




quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Carne-aval

todo o pronto
todo encanto
tudo quanto
eu possua
já virou investimento

e por mais que eu intua
que a razão se foi pra lua
tudo que sou 
e que sobre meu ser flutua
só traduzem uma ideia:
minha carne
quer ser
tua.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Carnaval

Não haverá lua cheia
e ainda assim
a energia que teu corpo
no meu semeia
iluminará o porto
da eternidade
ensaiada em mim.


rindo à toa

acho graça
do que passa
do que não passa
sorrio mais
de coisas importantes
e banais.

estou assim
nesse estado
abobado

olhando no espelho
me inquiro se é sandice
mas algo agora
quase me convence
que estar triste
é que é tolice.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

esfriamento global

antes parte
do mar
dissolvo-me
resolvo a-mar

em novo âmbito
ponho-me incurso
livre, longe
alojado entre o erro e o acerto
desperto líquido,
decerto insípido
aberto,
auto-tóxico.

esverdeadas
as escamas espalhadas
sob a luz que me banha

e tudo em volta frio:
tudo rio.



quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

de memória

A loucura é magra
branca e pequena
tem fala serena
numa voz que é rouca.

A loucura
se vista de cima
até parece pouca,
quase não alucina.
Mas deixa seu rastro,
o raro escorpião:
a tudo destrói
tudo põe no chão...

A loucura não se rende
invade a memória
e destrói 
devaneios de outrora...

Não me iludo
não sei de tudo
mas algo sei:
para ela, não há lei
a loucura é bárbara.

Auditivo

Ontem o amor veio me falar
e já era tempo
dou-lhe alento
sou-lhe unguento
e outras formas de cuidado...
Deixou-me surdo
cansado,
à espera de outro remédio...
(porque amor sem tato
é um tédio!)

Poema feito em resposta a outro, sem título, de Roberto Mibielli, publicado no Facebook na primeira hora dessa quarta-feira.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

SMS

 
Las tres esfinges de Bikini, por Salvador Dali, 1947.

Mesmo no quinto
dos infernos
vencemos o deserto
e com modernos
sinais de fumaça
ficamos perto...

(e sei
que nem é por isso
que entre nós se desfaz
a noção de espaço:
é por dentro
e com a cabeça
que te abraço...)

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Se me concedesse
o gênio
um desejo,
seria a palavra definitiva
e eu,
intuitiva,
descreveria 
todo esse livro
de quinze dias.

e o faria assim,
num termo,
sem prefácio nem fim.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Ela fala
falta, furta
fere e afere desejo
e o que mais em si
for festejo:

Tátil,
dócil...

É de fato
quase fácil,
não fosse
a fita amarela
sobre ela:
 - FRÁGIL.