"Uma atividade voluntária exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e alegria e de uma consciência de ser diferente de vida cotidiana." (Huizinga, Johan. Homo ludens: o jogo como elemento da cultura. 5ed. Saão Paulo: Perspectiva, 2007)
De todos os brinquedos que a vida me deu, o que mais me cativou foi o de jogar com as palavras. O jogo se faz completo quando escrevo e alguém replica, quando replico o que escrevem... É na intenção de reunir jogadores e assistência, que meu blog é feito.



quinta-feira, 30 de junho de 2011

(in)consciência de si

Aula da tarde. Na hora da saída caiu um puta pé d'água. Eu corri no começo, mas lembrei de um verso que diz que a gente corre como se chovesse de trás.

Parei no meio da rua. Ela impiedosa.

Deixei que me lavasse. Subordinei-me à hierarquia das gotas. Caminhei devagar até o carro, voltei ensopada para casa.
Estou nessa. Rendida ao que vem de cima, tranquila, ré confessa. Não é só bossa. Já posso saber que é só o amor quem aquece meu irretocado espírito byroniano.

E que, a qualquer hora, pode chover.

terça-feira, 28 de junho de 2011

piada sem graça

O gato
sem botas
me engole com um sorriso
preciso,
me adota sem aviso
e desbota minha sobra de juízo!

Agiota,
o coiso me cobra o siso,
me leva à bancarrota.

Nem nota, o janota,
meu tom conciso:
- de improviso
encerro a anedota.


(ver final alternativo no comentário...)

segunda-feira, 27 de junho de 2011

pro meu amor maior

Era lamúria - até Leminski,
viciosa - até Vinícius,
tinha uma vida meio reles
 - até Cecília Meireles
de alegria irregular
 - até Ferreira Gular
sem eira nem beira
 - até Manuel Bandeira

Andrava perdida até que,
"numa pedra no meio do caminho",
conheceu
a vida.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

chuva madrugadeira

Águas da Praça. Foto de elimacuxi, Boa Vista, 2009.

 Estampo-me onde posso
até as tampas desse poço
corroendo carne e osso.

Espancada por outras águas
A negra alvorece e chora
Estanca poças turvas, antigas mágoas
e vai embora
.
.
.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

uma conversinha sobre a república populista...

Esse negócio de ser prof de história e poeta, onde a poesia nessa história doida do Brasil? O poema Quadros, que postei nessa semana, me deu a ideia de trabalhar com os caras do período 1946/1960... veja no que deu:

Dutra
Ser ou não ser?
Não ser:
- Comunista de merda
Deve morrer!

Getúlio
Eram vargas impressões
Que o mantinham vivo:
Deu a última cartada:
virou livro.

Café
Despertou cedo para o poder
Teria sido o coração
Que lhe impediu permanecer?

Luz
Tramou no escuro
Mas o aliado que o trouxe
não soube ficar calado:
apagou-se.

Lott
Ignorou o café
Apagou a luz
Para contrapor o golpe
Empossou o inculpe.

Ramos
Nem era domingo
De Ramos
Mas tomou posse
E assim fomos.

JK
Diz que era um doce e dançava bem
Zelava pela esposa e família
Mas no meio do mapa
Escondeu a quadrilha
Rasgou a virgem:
Belém-Brasília.

Quadros
Estúpido e estrábico
espécime rara
equilibrar-se não pôde
caiu foi de cara!

terça-feira, 21 de junho de 2011

domingo, 19 de junho de 2011

Amor de poeta

No novo tabernáculo
explorou o vernáculo

externou os ventrículos
e imitando ventríluquos
estendeu os tentáculos
que estabeleceram vínculos.
viúva
pensou impedir
nova chuva 
e novo outono

mas não quis
saiu feliz
protegendo a cabeça
com enormes ósculos escusos.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Nina

Nina menina
é rebuliço
jura-me que nada tem
me joga um feitiço
e se apossa de mim.

Na noite de lua
quase sem nuvens e ameaças
Nina trapaceia com sua voz de sereia
entre os lábios doces de pirraça.

Nina
Sacana
Insana
Morfina e eu anestesiado
Otário,
Nécio:
Estupidamente emocionado.

sábado, 11 de junho de 2011


"Coração espelhado".Fotografia de A. Brito. Disponível em http://janamenegaz.zip.net/

Quando eu me apaixonar por mim de novo
vou descobrir que digo coisas de modo engraçado
que somente eu ainda uso determinada peça de roupa
e que algumas contradições do meu jeito confundem as pessoas.
Vou observar o detalhe da minha pele
meu jeito de conduzir ao dançar
que quase nunca mostro meus pés
que quase nunca solto meus cabelos
que talvez nem precise de regime
e que minhas mãos possuem
belos dedos longos.
Verificarei que minha voz rouca pela manhã é perfeita para um telefonema,
que meus sapatos masculinos causam curiosidade
que eu pareço ignorar que posso ser bela
e que mais alguém acha legal meu rosto sem maquiagem.
Redescobrirei meu encanto de ser descolada
deixando a bolsa pelo chão,
ouvindo músicas desconhecidas
e lendo coisas sem razão.
Quando eu me apaixonar por mim de novo
surtirão efeito as frases de efeito e as perfeitas madrugadas
o percorrer de mãos em degredo sentindo sem medo a paixão compartilhada.
Serei surpreendida cantando pra mim mesma
uma canção que fale de amor e de detalhes conjunturais.
Quando eu voltar a me apaixonar por mim mesma
 - e esse dia vem -
é por que fui capaz
de me encantar de novo por alguém.